A escoliose é uma curvatura lateral da coluna, que deve medir nas radiografias com a pessoa de pé, pelo menos 10 graus, acompanhada de algum grau de rotação dos ossos da coluna, caracterizando uma deformidade tridimensional. Não se trata de um problema postural, mas de uma deformidade dos ossos da coluna que se desenvolve no período da adolescência, podendo se apresentar com gravidade bastante variável e podendo também progredir com o tempo necessitando de tratamentos com coletes ou cirurgias.
Em relação às causas da doença, a escoliose é associada a várias crenças inadequadas sobre a sua origem, como sendo alterações posturais ou sobrecargas inadequadas. Estudos recentes tem demonstrado que a escoliose tem origem genética, ou seja é uma doença, já ao nascimento, pré-determinada a acontecer. Esta conclusão não foi fácil, pois a transmissão hereditária da escoliose é bastante complexa por envolver mais de um gene (estrutura responsável pela transmissão das características familiares). A combinação destes vários genes é que determina o aparecimento ou não da doença, assim como a sua gravidade. Desta forma, nem sempre os pais com escoliose transmitem a deformidade para seus filhos e quando ocorre nem sempre tem as mesmas características. O contrário também é verdadeiro, os pais de filhos com escoliose nem sempre apresentam a deformidade. Este conhecimento é importante para desmistificar a doença, erroneamente associadas com o uso inadequado de mochilas, exercícios físicos e erros posturais. Apesar de termos que nos preocupar continuamente com a postura e sobrecargas nas colunas de nossas crianças, com relação à escoliose este não é o foco. A coluna dos pacientes com escoliose fica “torta” porque geneticamente, os ossos da coluna foram programados para crescerem desta forma assimétrica no início da adolescência. A história mais comum nas escolioses é a de adolescentes que apresentam colunas muito bem alinhadas até a pré-adolescência, quando um dos lados da coluna do ossos da coluna passa a crescer mais do que o outro causando o aparecimento da deformidade.
Devido à complexidade da anatomia dos ossos da coluna, essa alteração do crescimento não causa apenas uma curvatura lateral, mas também causa uma rotação entre os ossos da coluna. Esta rotação vertebral é, geralmente a parte que mais incômoda do ponto de vista estético para as pacientes, pois devido à conexão das costelas com as vértebras, ocorre uma deformidade na caixa torácica, causando a chamada “giba”. A “giba” é uma deformidade na qual um dos lados das costas é mais saliente que o outro, sendo especialmente visível quando a pessoa se inclina para frente.
E resumo, a escoliose é uma patologia genética que ocorre em crianças saudáveis, que crescem com colunas bem alinhadas até o início adolescência, quando passam a apresentar uma diferença na altura dos ombros e assimetria da cintura, devido à curvatura lateral da coluna, e uma deformidades das costelas devido à rotação das vértebras.
O principal objetivo do tratamento da escoliose é deter a progressão da deformidade, que em alguns casos tendem a ficar mais grave com a passagem do tempo. Alguns pacientes podem piorar até dois graus por ano na vida adulta, ou seja, uma paciente com 40o no final da adolescência, aos 15 anos, pode apresentar aos 45 anos de idade, apenas 30 anos mais tarde, uma deformidade maior que 90o. O tratamento da deformidade é bastante variado, sendo condicionado pela gravidade da curva e da idade do aparecimento da doença, pois seu desenvolvimento se relaciona com o crescimento da coluna. Curvas leves, detectadas em pacientes após o final do crescimento dos ossos da coluna, não necessitam de nenhum tratamento, pois são discretas esteticamente, não pioram com o tempo e nem causam dor. No outro extremo estão os adolescentes mais jovens, ainda com grande potencial de crescimento e curvaturas já graves no momento do diagnóstico. Estes pacientes geralmente necessitam de tratamento cirúrgico, a fim de evitar a piora progressiva da deformidade, que a partir de certo grau começa a causar dor, restrição da respiração e acometimento estético bastante acentuado, com forte impacto social. Nos casos intermediários, quando a deformidade é moderada e reconhecida antes do final do crescimento existe a opção do tratamento com coletes.
De qualquer forma, independente do tipo de tratamento, se adequadamente conduzido e realizado no momento adequado, traz melhora na qualidade de vida do paciente, que pode, e deve, manter-se fisicamente ativo e sem grandes alterações em sua vida escolar, esportiva ou social, e possibilita uma vida adulta saudável e sem restrições.